quarta-feira, 13 de junho de 2007

Lágrimas no metrô

A moça chora no metrô.

Por que chora aquela moça?

Sempre acho que todo choro é ou deveria ser por amor, que me perdoem a pobre rima que reverbera aqui embaixo, nos subterrâneos, underground, tantas linhas depois daquela criatura deslizar o inferno rolante, lá no primeiro batente, e cair aqui, passos que conto como o rapaz do crime russo, degraus que ignoro para esquecer o tamanho da queda, deus, vixe.

Uma grande dívida nunca nos põe a chorar de verdade. Por um familiar, choramos diferente. Desemprego? Não. Se não teríamos um Tietê, um Capibaribe, um Paraíba, um São Francisco a cada segunda-feira, cada esquina, lágrimas que manchariam a tinta dos classificados e seus quadradinhos lógicos, portas na cara, quem sabe da próxima, projeto ilusões perdidas...

A moça tenta não soluçar, mas soluça. Terá discutido a relação, a velha d.r., à boca da estação Paraíso? Veste roupa de trabalho sério, e chora. Daqui a pouco estará sentada na sua cadeira de secretária, exímia, bilíngüe, a serviço do capital da avenida Paulista.

Mas por enquanto chora a moça do metrô e é o que nos importa. Se não for por amor, eu morra. Terá levado um pé-na-bunda? Terá visto o casamento pelo binóculo do sr. Nelson Rodrigues?

Perdoa-me por me traíres?

Estação Consolação.

Salta a moça que chora no trem veloz.

Sempre há uma criatura a chorar no ônibus, também, ou again, dores pra amolecer o asfalto, sopra minha amiga Claudia Leal, que sempre pensa oferecer um ombro, um olhar de conforto, na linha Campinas/São Paulo.

O amor é sempre assim, começa no paraíso e termina na consolação.

Como no metrô.



Escrito por xico sá

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