sábado, 30 de junho de 2007

A arte de cair fora

Tem vezes em que a gente precisa cair fora.

"A Retirada", aquele hexagrama do I-Ching. “Quando não resta nada onde deva ir, ele volta”.

Nada como cair fora civilizadamente, educadamente, do jeito mais ok que a situação permite.

Cair fora assim é quase um milagre. Mas tem vezes em que a gente precisa cair fora, não adianta. E os amigos dão parabéns: hey, chica, você fez a coisa certa. Jarvis cantando “don’t let him waste your time. Go, go, go!”

Tem vezes em que a gente precisa cair fora. Até da própria casa. Até da própria cidade. Até da própria vida. A saída é o aeroporto. E tem vezes em que a gente precisa tanto cair fora que enfrenta o caos aéreo estoicamente ouvindo Smiths no fone de ouvido.

A gente precisa cair fora. E passar uma hora e meia sentada no meio de dois homens de preto só para mudar de ares, porque não basta cair fora da situação por telefone, já disse, é preciso sair um pouco da própria vida também.

Aí, quando você vê, está estoicamente viva, sobrevivente de uma confusão bem grande, firme, digna. E carente. E entediada.

Ter que cair fora é uma merda.

(Nina Lemos)

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