quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Não ser totalmente dos outros, e não ter alguém totalmente seu


Nem o sangue, nem a amizade e nem mesmo o mais forte senso de obrigação são suficientes; pois dar a alguém o afeto é muito diferente de dar-lhe a vontade. A união mais íntima admite exceção; nem por isso se ofendem as leis da cortesia.

Um amigo guarda para si algum segredo e nem um filho revela tudo ao pai.

De algumas coisas calamos com uns e falamos a outros e vice-versa, de modo que revelamos tudo e exaltamos tudo, mas para confidentes diferentes.

Aquilo que mais deveríamos esquecer é o que lembramos com mais facilidade.

A memória não é apenas traiçoeira e falha não socorrendo quando necessária, também é tola, acudindo quando não convém.

É prolixa quando nos provoca dor, e desleixada quando nos pode dar prazer.

Às vezes, o melhor remédio para o mal seria esquecê-lo, mas esquecemos o remédio.

Convém pois instruir a memória a ter melhores hábitos, pois ela sozinha pode nos proporcionar o céu ou o inferno.

Os satisfeitos excetuamos: em sua inocência tola, estão sempre felizes.

Enquanto for novo, será estimado. A novidade agrada a todos devido à sua variedade e renova o gosto.

Uma mediocridade nascente é mais estimada do que a sumidade habitual. As excelências sofrem desgaste e acabam envelhecendo.

Note porém que a glória da novidade dura pouco.

Em quatro dias, perde-se-lhe o respeito das primícias.

Tire proveito da estima e agarre o que puder durante este fugaz agrado. Pois, passado o entusiasmo pela novidade, as paixões esfriam, e o prazer se transforma em enfado.

E acredite: todas as coisas tiveram sua vez, e passaram.

A verdade é perigosa, mas um homem de bem não pode deixar de dizê-la. Os habilidosos médicos da alma inventaram um modo de adoçá-la, pois quando ela constitui uma desilusão, é a quintessência do amargor.

A tarefa exige grande destreza e procedimento correto. Com uma mesma verdade, um lisonjeia e outro golpeia. Aos presentes, refira caasos antigos. Ao tratar bem entendidos bastam leves menções ou talvez seja melhor calar.

Não se deve curar os príncipes com remédios amargos; para isto serve a arte de dourar os desenganos.

As paixões são os reflexos do espírito. A arte mais prática está na dissimulação.

Aquele que mostra as cartas arrisca-se a perder.

Que a cautela e a reserva concorram com a atenção.

Quando o oponente analisa seu raciocínio como um lince, oculte seu interior como uma lula.

As coisas não passam pelo que são, mas pelo que parecem.

Raros são os que olham por dentro e muitos os que se contentam com as aparências.

Apenas ter razão não basta; que o semblante também o demonstre.

Um comentário:

  1. Lady Di nada... Déazinha muito melhor!!!
    Além de linda, tem muita cuca no lance!!! Saudades...

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